terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Dois garotos se beijando: porque demorei tanto a ler este livro?

Foto: Literagindo
Quando conheci o David Levithan, em meados de 2014, não fazia ideia de como eram suas obras. Sabia que era infanto-juvenil, que se assemelhava muito ao estilo de John Green, mas não sabia de fato como era ler um de seus livros. Comecei por Will & Will – que escreveu em parceria com o Green, e agora terminei de ler a sua mais recente obra: Dois garotos se beijando. 

Digo a vocês com toda sinceridade: me surpreendi. Não, não que eu esperasse coisa pouca do David. Não foi isso. É que ele tem uma linguagem tão igual a nossa, que o livro flui como se ele estivesse conversando conosco. E o livro realmente se passa assim: uma narrativa onde as histórias são contadas diretamente a nós, leitores. Mais parece uma conversa, daquelas que você acaba se tele transportando para o lugar de quem está contando.

Quem nos conta as histórias são os ‘gays do passado’, todos aqueles que passaram por tanta dificuldade e que não mais estão entre nós. Conforme eles contam as histórias, por que eles contam a história de mais de um personagem, eles nos contam um pouco da história deles. Eles, os gays do passado, contam que são de gerações que antecedem a dos personagens, contam como foi difícil para eles serem gays naquela época. Contam como muitos morreram e como todos sofreram.

Não pense que devido ao título o livro vai contar a história, do início ao fim, de dois simples garotos se beijando. Não, não vai. O beijo acontece sim e devido a uma causa nobre: chamar a atenção da sociedade para a causa gay. Harry e Craig decidem ter essa ideia quando o até então desconhecido Tariq é espancado de forma gratuita, simplesmente por ser quem é. Revoltados, Craig chama seu ex-namorado e ambos topam quebrar o recorde de beijo mais longo do mundo, em pleno jardim da escola onde estudam.

Em outro ponto somos apresentados ao casal formado por Neil e Peter. Logo depois conhecemos um casal que, digamos, é o mais fofo do livro: Ryan e Avery. Eles são sensacionais e aprendemos tanto com eles. O mais solitário e que chegamos a ter pena é o Cooper. Garoto que vive em rede social para obter um parceiro sexual; um garoto que vive na internet conhecendo outros homens e sendo tantas pessoas ao mesmo tempo. Ele ainda não se aceitou. Seus pais não aceitam sua condição e isso quase o mata.

O livro conta a história de todos os que citei aqui. São belíssimas histórias. Histórias de superação; histórias de preconceito; histórias de aprendizado; histórias de amor. E elas nos são contadas de uma forma tão simples, uma forma tão natural, que muitas vezes achamos que o David pegou uma parte da história de cada um de nós e pôs no livro. Tiro meu chapéu para ele por nos presentear com um livro como esse.

Uma das coisas boas em ser leitor é poder viver cada história e saber, na vida real, como entender cada pessoa e suas diferenças. Te convido para ler então ‘Dois garotos se beijando’ e aprender imensamente com essa literatura. Enquanto vocês leem, eu ficarei imaginando como estaria agora cada um dos personagens se a história tivesse uma continuação.

PS: Leiam a ‘Nota do Autor’ e vejam porque digo que tudo que ele coloca é tão real.

Desejo a todos uma boa leitura e até mais.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O caso dos dez negrinhos (ou E não sobrou nenhum)

Uma das capas do livro com o título original.
Foto: Internet
Passado todas as festas de final de ano, enfim chegamos em janeiro. Mês esse que é bem longo, mas que também é um mês de férias e por isso nem ligamos para quantos dias ele tem. É até bom que ele seja longo pra dar tempo de fazer tudo, inclusive de ler. Sabe-se que é um mês onde, muitas vezes, se deixa a leitura um pouco de lado, mas trouxemos para vocês um livro curto e que, com certeza, vai prender sua atenção do início ao fim: O Caso dos Dez Negrinhos, da imortal Agatha Christie.

Esse livro agora é encontrado sob o título de 'E não sobrou nenhum'. Mudaram o título original do livro, uma lástima, para evitar que se relacionasse com o racismo. Abro aqui um parênteses para dizer o quanto detestei isso. É um politicamente correto burro, porque o nome 'negrinhos' do título nem se refere a questão racial, sem falar que o novo título conta o final do livro. Bem, a mudança se iniciou nos EUA e, por força contratual, foi seguida mundo afora.

Voltando a história, dez pessoas, que a princípio não têm nada em comum, são mandadas para uma ilha, a Ilha do Negro na versão original do livro que é a versão que serviu de base para a crítica. Eles são supostamente convidados por amigos, mas descobrem depois que um milionário chamado U.N. Owen manobrou para prendê-los ali. O livro é muito interessante porque começa já com mistério. Ninguém sabe nada e o porque de estarem ali.

Com poucas páginas de história sabe-se o que os prendem ali e o que essas pessoas têm em comum: cometeram crimes e ficaram impunes. A justiça não conseguiu provar na ocasião que seriam eles os culpados. Foi a deixa perfeita para alguém que não suporta injustiça começar a ser o juiz de todos ali. Para isso ele usa um texto de uma brincadeira antiga que tem o nome 'O caso dos dez negrinhos', por isso o nome do título.

O livro é curto e é fantástico, como sempre são os livros de Agatha. Se quiserem também podem, após a leitura, ver o filme. Tem uma filmagem de 1945 e outra de 1987, eu vi e a segunda e ela é bastante fiel. No filme, que tem o nome do livro original, já tem algumas mudanças: o texto da brincadeira utilizada não se chama 'o caso dos dez negrinhos' e sim 'dos dez indiozinhos', assim como a ilha também se chama Ilha do Índio.

O final do livro, que não vou contar aqui, é muito, mas muito inteligente. Se em algum momento da leitura você desconfia de quem está por trás de tudo, a desconfiança se vai no meio da leitura. Mesmo você tendo uma ideia do final pelo novo título, como esse final acontece é que é fantástico, pois é muito inteligente.

Com esse excelente mistério, só resta desejar a vocês uma boa leitura. Grande abraço e até a próxima.

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